quinta-feira, 7 de julho de 2011

Caminhada

Longo foi o caminho que me trouxe de volta.
Trilhos tortuosos na densa floresta que afinal sou eu vista por dentro, tão obscura em alguns sítios onde a Luz não tinha ainda chegado...

Palmilhei-os todos, da negação à aceitação passando por todas as fases, as negras e as luminosas, da dor de crescer à força.
Da floresta emerjo com os pés cansados e feridos, a alma ainda gotejante de sangue e suor, a boca seca ansiosa por dessedentar-se na água límpida de um riacho.

No limite da floresta reencontro a luz do dia, que me acolhe e me faz pestanejar. Sei que passaram muitas luas sem que sentisse na pele o mesmo sol, a mesma aragem. É tempo de regressar para junto dos que povoam o vale da Luz, para junto das minhas irmãs que me esperam com os corações confrangidos pela minha ausência... pelo meu silêncio.
Terei muito para contar quando chegar junto delas. Ainda tenho um longo caminho a percorrer, mas desta vez plano e rumo a um lugar acolhedor.

Vou regressar a casa.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Revisitar

Não sei a côr da nostalgia de revisitar os cantos carcomidos pelo pó.
Sei apenas que de repente as minhas letras quiseram instalar-se aqui.
Procuro-lhes um espaço onde não façam dano. Veremos.

Por fora, para fora dos olhos do rosto, imutável segue a paisagem.
Por dentro, onde moram os olhos da alma, segue incessante a viagem.
A que me propus empreender, a que me faz sentir respirar mais e melhor a cada momento, a cada obstáculo transposto, a que me perspectiva até no meio do caos e da dor.

E aí me vou recolher de novo.
Vai-se o fantasma, fica o perfume do corpo que por aqui levemente se passeou.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O valor das crenças

Quando somos crianças ensinam-nos os valores do sacrifício, do trabalho, do empenho, do suor do dinheiro. Incutem-nos a cautela, explicam-nos a racionalidade do "pé-ante-pé" nas escolhas na vida, a importância de pesar cada decisão tomada, para não sermos apanhados de surpresa a cada esquina mal dobrada.

E tudo isto é muito válido, e tudo isto é muito útil. Podemos guardar carinhosamente as crenças antigas, descobrindo sempre quais as que são válidas para cada um de nós em cada situação da vida.

O que muitas vezes se esquecem de nos ensinar é que, por vezes, é preciso simplesmente respirar fundo e confiar no caminho que o coração escolheu. Pode não ser o mais fácil, pode não fazer sentido para mais ninguém, pode parecer complicado, imbecil ou até completamente impossível... mas é o nosso, afinal. E se é o nosso caminho, como poderemos alguma vez esperar caminhar noutro?

Assim que conseguirmos ver (com os olhos do peito) aquilo que nos faz feliz, que nos alegra todas as manhãs, fazendo com que cumprimentemos a vida com um sorriso (mesmo nos momentos difíceis), aquilo que nos motiva, que realça os nossos dons, então... não há outra escolha senão seguir em frente. E continuar a ter fé, a confiar. Porque os obstáculos surgirão naturalmente. Para nos mostrar a importância das escolhas, para nos colocar no trilho certo para cada um de nós.

Quem tem a bênção de já se ter descoberto... tem de ter o self-respect de falar com o seu coração.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Energia

No universo nada é desperdiçado. Tudo tem uma função, ainda que sejamos demasiado pequenos/inconscientes/imaturos para a entender.

Isto não faz com que as coisas se tornem melhores. Saber que tudo tem uma função. Mas ajuda-me, por vezes, saber que eu não tenho de saber porque é que determinada coisa surge, saber somente que existe uma lição/um desafio que me fará crescer com ela.

Por vezes, atraímos as coisas a nós, seja pela forma como pensamos, por aquilo que dizemos, pelos padrões que criámos na nossa vida, pelas "mentiras" em que acreditamos. Outras vezes, o universo dá-nos aquilo que precisamos, mais do que aquilo que queremos. Se ambas as coisas são a mesma, não posso afirmá-lo convictamente. Suspeito, de uma forma muito pouco coerente, que sim.

Eu gosto de pessoas. Nasci com esta ânsia de ver luz nos outros. E vejo-a. Na maioria das vezes. Aplico a minha crença aos seres vivos. Não acredito que o universo desperdice energia. E nós temos tanta para usar...

A questão é a quantidade que utilizamos para fugir às coisas, nomeadamente à dor. Detestamos sentir dor. Procuramos o prazer, aquilo que nos faz bem. Mas continuamos a atrair o contrário, queixando-nos desmesuradamente da vida, dos outros, dos desafios. Vendo o pior no mundo e nas pessoas que nos rodeiam. Sentindo-nos sempre inferiores àquilo que realmente somos. Atraindo, por isso, o sofrimento. A prolongação de uma dor que está presente, mas à qual fugimos e por isso nunca chegamos a atravessar.

Não podemos fugir à dor. Faz parte da vida, de nós, da alegria, tal como a noite faz parte do dia, como a morte faz parte da vida, como o fim só surge quando há um início. Não podemos fugir à dor. Mas podemos afastar o sofrimento. Atravessando a dor, ficando lá, ouvindo-a profundamente e entregando ao universo essa energia. Pensando melhor, fazendo melhor, acreditando melhor, vendo melhor, falando melhor, amando melhor.

Podemos usar a nossa energia para gerar luz. Tudo o que precisamos de fazer é SER luz.

3

3 são os lados de um triângulo.
3 os pontos fulcrais do movimento aparente do Sol.
3 os elementos da trindade cristã.
3 os braços de um trishkel.

E 3 os membros fundadores desta Tribo. Shaman, Princesa e Guerreira que se (re)uniram neste ciclo de vida para espelhar a Luz.
Das conversas entre a Tribo nasceram as palavras-chave: 3.
3 palavras, 3 fases de mudança. Não importa qual é concluída primeiro porque todas são importantes e não comportam significado a não ser no seu todo.

Integrar, a palavra da Shaman
Reunir partes separadas. Torná-las parte do todo.
Integrado/Íntegro - o que está ciente da sua posição no mundo, do seu próprio centro e não pode ser desviado por forças exteriores.

Renascer, a palavra da Princesa
Renovar, (re)criar-se, voltar ao início.
Reconhecer com humildade que nada é garantido no mundo material, que não se é dono da verdade e que se pode sempre (re)aprender.

Inspirar, a palavra da Guerreira
Aspirar o ar da vida, absorver a Luz do sol na pele e a Luz do universo no interior.
Descobrir em si mesmo coisas que se pensava não existir ou capacidades que não se imaginava ter.

O início no Caminho da Luz não pode ser forçado. É preciso querer: ir em frente, evoluir, mudar, retroceder, parar, não importa. Essencial é saber que se quer prosseguir no Caminho ao seu próprio ritmo. A Tribo e os verdadeiros Caminhantes não obrigam, não forçam. Mostram, apenas. Partilham Luz e experiências, oferecem apoio, calor, ajuda. Mas o primeiro passo tem que ser cada um a tomá-lo sozinho.

Quando o conseguir, quando entrar no caminho de olhos e coração bem abertos, pronto a aceitar as 3 Verdades, as 3 Partes do Caminho, descobrirá em si mesmo a Quarta:
quando conseguir dentro de si
Integrar (as suas experiências)
Renascer (dispondo-se a recomeçar)
Inspirar (absorver Vida e Luz)
então poderá
Ser










Um. Uno com o Universo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Defeitos, Virtudes

Sou Guerreira. Não é o meu papel mostrar medo mas sim dominar o meu para que o dos outros não se agigante e lhes tolha os movimentos.
Gosto de dar o peito às vagas, de voar nas tempestades. Gosto de fazer frente aos obstáculos. Há quem veja esta forma de agir como errada. Mas fazer frente não quer dizer destruir - apenas encarar. Porque aquilo que não se conhece amedronta mais do que o que é conhecido.
Quantas vezes perdemos tempo evitando coisas, rodeando obstáculos bem de largo quando poderíamos tê-los contornado com mais facilidade - simplesmente observando-os e tirando-lhes as medidas primeiro?
Ok. Se calhar já meti "a pata na poça" ao falar em perder tempo. A Shaman da Tribo acredita que há um tempo para cada coisa, que surgirá quando tiver que ser. E eu respondo-lhe que se tiver tempo extra para me preparar será mais fácil. E a Princesa ri-se destas trocas de pontos de vista.

Concordamos em discordar, na Tribo. Somos necessariamente diferentes porque temos feitios diferentes, experiências diversas, vivências diferentes neste tempo e nos anteriores. É saudável aceitar a pluralidade porque nenhuma tenta impôr o seu ponto de vista pessoal às outras. E é frequentemente do debate que nasce a Luz que todas procuramos.

Isto tudo a propósito de defeitos e virtudes. O que é defeito para uns pode ser virtude para outros. Basta que o ponto de vista seja diferente ou a escala em que as acções são medidas e avaliadas. Eu gosto que me indiquem os meus defeitos - pontos de imperfeição, nódoas no vidro que me impedem de ver a Luz, nuvens cinzentas num céu que se quer límpido. Gosto que mos indiquem. Não que me acusem como se estivesse a ser julgada. E que em qualquer dos casos me permitam falar disso se assim o entender em vez de me condenar sem apelo.
Falo disso com à vontade porque já o senti na pele. Oh não, não venho para aqui lamuriar-me! Venho, como sempre, partilhar experiências que vivi no Caminho.

Já me acusaram de ser ambiciosa - Não vejo nada de errado na ambição, se não for usada ou servir de desculpa para prejudicar os outros. Porque não podemos querer ser melhores pessoas, melhores pais/mães, melhores profissionais?

Já me acusaram de ser competitiva - Tal como a ambição, se a competição for saudável no sentido de proporcionar um desafio a superar nos nossos próprios termos e sem fazer batota, também não vejo qualquer problema com isto.

Já me acusaram de ser desconfiada - Se calhar, ao que os outros chamam desconfiança eu chamo cuidado. É meu dever, como Guerreira, Mãe, Ser Humano, zelar para que os que estão à minha guarda permaneçam incólumes. E se isso implica não acreditar em todas as patranhas que pessoas que não conheço me queiram impingir, faço-o - e podem chamar-me desconfiada à vontade.

Já me acusaram de ser arrogante - Esta foi talvez a mais custosa de entender. Mas acabei por perceber que há quem veja como arrogância a capacidade de saber o que se vale e de avaliar o que se sabe; de medir o que nos querem dar, vender ou impingir e comparar com o que já temos, decidindo aceitar ou rejeitar a oferta/imposição.
Talvez apenas neste aspecto possa admitir que possuo algo que se assemelhe à arrogância: quando não reconheço a outras pessoas o direito de me proselitizar, de me impôr as suas visões baseadas na sua própria noção do que é ou não verdade, de me obrigar a venerá-las como donas de uma verdade absoluta que querem aprisionada e sob o seu controle. Quando as chamo, a elas próprias, de arrogantes e lhes viro as costas.

Disse há muitos séculos o filósofo que só sabia nada saber. Eu sei que palmilhamos todos o Caminho da Luz - uns mais depressa do que outros, correndo enquanto outros gatinham; uns com palas que os impedem de ver as flores na berma, outros completamente cegos e tendo que ser levados pela mão, outros ainda caminhando de costas pois receiam a luz. E há também os que se afastam.
Temos formas diferentes de andar, correr, olhar, parar. Formas diferentes de abordar problemas, de fazer sentir aos outros que possuem uma característica que pode ser melhorada - sem necessariamente fazê-los sentir-se ainda mais imperfeitos, ainda mais insuficientes.
Todos, todos, somos imperfeitos, meros caminhantes, iguais perante a Luz.
Só a Luz é Universal.

As lições mais difíceis

Uma das grandes lições que me são pedidas é a da confiança. Confiança de que tudo acontece quando e como deve acontecer, confiança de que o amanhã se resolverá por si só, confiança em que o Universo sabe o que faz.

E se, no coração, reconheço estas como verdades indiscutíveis, é-me dificil, no entanto, abraçá-las nos momentos em que as esperanças se desvanecem no vento e os sonhos são rasgados diante dos olhos. Afinal, sou humana. E, para mais, mulher. Com muito gosto, sim senhora.

Mas não, não desespero. Porque sei que há outros dias, melhores sonhos, e que os obstáculos se destinam a fazer-nos crescer, aprender, melhorar. E se é verdade que há um momento pequenino em que as lágrimas inundam a face e o coração se parece desfazer no peito não é menos verdade que continuo, ainda assim, a acreditar que a vida me trará o meu maior desejo, quando for a altura perfeita para tal.

Afinal, se os obstáculos não fossem altos, fortes, rugosos, qual seria a dificuldade em transpô-los? Como aprender a levantar se não cairmos? A acender a luz se não houver escuridão? A acreditar se não formos postos à prova?

Por isso, coração, mais uma vez te abro ao Mundo, solto a dor e a deixo ir, amargurada e ferida. Grito, e rasgo-me, e depois sossego e embalo-me na certeza de que o teu desejo permanece em mim, o merecimento existe, e o Universo há-de me piscar o olho com amor.

Após o embate, saio fortalecida. Confiante. Afinal, sou capaz de aprender.