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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Energia

No universo nada é desperdiçado. Tudo tem uma função, ainda que sejamos demasiado pequenos/inconscientes/imaturos para a entender.

Isto não faz com que as coisas se tornem melhores. Saber que tudo tem uma função. Mas ajuda-me, por vezes, saber que eu não tenho de saber porque é que determinada coisa surge, saber somente que existe uma lição/um desafio que me fará crescer com ela.

Por vezes, atraímos as coisas a nós, seja pela forma como pensamos, por aquilo que dizemos, pelos padrões que criámos na nossa vida, pelas "mentiras" em que acreditamos. Outras vezes, o universo dá-nos aquilo que precisamos, mais do que aquilo que queremos. Se ambas as coisas são a mesma, não posso afirmá-lo convictamente. Suspeito, de uma forma muito pouco coerente, que sim.

Eu gosto de pessoas. Nasci com esta ânsia de ver luz nos outros. E vejo-a. Na maioria das vezes. Aplico a minha crença aos seres vivos. Não acredito que o universo desperdice energia. E nós temos tanta para usar...

A questão é a quantidade que utilizamos para fugir às coisas, nomeadamente à dor. Detestamos sentir dor. Procuramos o prazer, aquilo que nos faz bem. Mas continuamos a atrair o contrário, queixando-nos desmesuradamente da vida, dos outros, dos desafios. Vendo o pior no mundo e nas pessoas que nos rodeiam. Sentindo-nos sempre inferiores àquilo que realmente somos. Atraindo, por isso, o sofrimento. A prolongação de uma dor que está presente, mas à qual fugimos e por isso nunca chegamos a atravessar.

Não podemos fugir à dor. Faz parte da vida, de nós, da alegria, tal como a noite faz parte do dia, como a morte faz parte da vida, como o fim só surge quando há um início. Não podemos fugir à dor. Mas podemos afastar o sofrimento. Atravessando a dor, ficando lá, ouvindo-a profundamente e entregando ao universo essa energia. Pensando melhor, fazendo melhor, acreditando melhor, vendo melhor, falando melhor, amando melhor.

Podemos usar a nossa energia para gerar luz. Tudo o que precisamos de fazer é SER luz.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O elefante Acorrentado

Quando eu era pequeno, ficava encantado com o mundo mágico do circo.
Entusiasmava-me poder ver de perto cada um dos animais que viajavam em caravana de cidade em cidade.

Durante o espectáculo, tudo me parecia maravilhoso e deslumbrante, mas a aparição do elefante era sempre o meu momento preferido. O enorme animal dava mostras de uma destreza, tamanho e força impressionantes. Era evidente que um animal daqueles seria capaz de arrancar uma árvore com um simples puxão. No entanto, para minha surpresa, depois de cada actuação, o pessoal do circo prendia o elefante a uma pequena estaca simplesmente cravada no solo. Isto era para mim um grande mistério.

Embora a corrente fosse grossa e forte, um animal capaz de deitar abaixo um muro com a sua força poderia facilmente libertar-se da estaca e fugir. O que é que prendia o elefante? Porque não fugia?
Quando eu tinha cinco ou seis anos, ainda acreditava que as pessoas crescidas sabiam tudo. Assim, questionei os professores, o meu tio e a minha mãe sobre o mistério do elefante.
Eles explicaram-me que o elefante não fugia porque estava amestrado. Como é lógico, perguntei-lhes então:
— Se está amestrado e por isso não foge, porque é que o acorrentam?
Ninguém soube responder-me a essa segunda pergunta.

Muito tempo depois, uma noite, conheci alguém muito sábio, que tinha viajado pela Índia e que me ajudou a encontrar a resposta.
O elefante do circo estava acorrentado a uma estaca desde muito, mas muito pequeno. Recordo que fechei os olhos e pensei no pequeno elefante recém-nascido preso à estaca. Imaginei-o empurrando e puxando a estaca, dia após dia, tentando soltar-se.

Quase podia vê-lo adormecer todas as noites esgotado pelo esforço, pensando voltar a tentar na manhã seguinte. Tudo era inútil: a estaca era demasiado forte para um animal recém-nascido, mesmo tratando-se de um elefante.
Até que um dia, o mais triste dos dias da sua curta vida, o elefantezinho aceitou que não podia libertar-se e rendeu-se ao seu destino.

Compreendi então porque razão o enorme e poderoso elefante que eu via no circo se deixava ficar acorrentado: estava convencido de que nunca conseguiria libertar-se da sua estaca.
O pobre animal tinha o fracasso gravado na sua memória de elefante e nunca, nunca mais, tinha voltado a pôr à prova a sua força.

Algumas noites sonho que me aproximo do elefante acorrentado e lhe digo ao ouvido:
— Sabes, tu pareces-te comigo. Tu também acreditas que não podes fazer algumas coisas só porque uma vez, há muito tempo, tentaste e não conseguiste. Tens de perceber que o tempo passou e hoje és mais forte do que antes. Se quiseres mesmo libertar-te, tenho a certeza de que poderás fazê-lo. Porque não tentas?

Às vezes, acordo a pensar que um dia o meu elefante finalmente tentou e conseguiu arrancar a estaca Então, sorrio e imagino que o enorme animal continua a viajar com o circo porque gosta muito de divertir as crianças, embora, obviamente, já não esteja acorrentado.

Jorge Bucay

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Aceitação


Aceita.
Aceita quem nem sempre estarás ao nível das tuas expectativas exageradas.
Que por mais que sejas, por mais que faças, nem todos os dias sentirás o sol no rosto.
Aceita que, ainda que tenhas percorrido muitas milhas, uma queda parecerá um retrocesso sempre maior. E não é.
E que os teus ponteiros "não sintonizados" nem sempre funcionarão como queres.
Aceita.
Que a tua imperfeição faz parte da tua aprendizagem. Que os teus medos, as tuas fúrias, a tua insegurança, acompanhar-te-ão até se tornarem teus amigos. E só depois começarão a surpreender-te menos. Aceita-os.
Aceita-te assim... feliz, triste, zangada/o, iluminada/o, sombria/o. Aceita que és sempre, mas sempre maior do que isso.
E que a tua humanidade é perfeita.
A melhor altura para trabalhares a aceitação é quando não te sentes digno/o desse amor maior.
Porque é exactamente essa a aprendizagem.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Escolhas

Quando nos encontrámos, as 3 juntas, numa das muitas encruzilhadas que a vida nos apresenta, de imediato nos identificámos como sendo portadoras de diferentes essências de Luz: uma Princesa, delicada, aberta ao Amor e à Comunhão Universais, uma Shaman, sábia guia de reflexões e hábil condutora de energia, e uma Guerreira, ansiosa por Paz e pronta a abrir trilhos no desconhecido.

As minhas irmãs têm falado sobre os caminhos, os passos, as metas. Como alguém que ainda está longe do esclarecimento, opto por falar das escolhas.
Há quem diga que, antes mesmo de nascermos, de sermos incorporados no invólucro de carne que nos irá acompanhar nesta passagem pela Terra, os nossos caminhos já estão traçados.
Eu discordo. Não acredito que houvessem caminhos traçados para o mal, e no entanto todos conhecemos casos de pessoas os trilharam - e, o pior de tudo, com gosto.
Não, eu acredito que quando nascemos nos são proporcionados dons e habilidades; que o ambiente em que crescemos tem o seu peso na capacidade que temos de os usar; e que, em última instância, somos os únicos responsáveis pela forma como os usamos.

Há muito que me pautei por um caminho de respeito ao próximo, de lealdade àqueles que me apoiam e aos que dependem de mim, de sinceridade e frontalidade até mesmo na hora de assumir os erros.

Vim a descobrir mais tarde que estas balizas de referência que me habituei a seguir fazem há muito parte do Bushido, o Caminho do Guerreiro, habitualmente associado aos Samurai.
O desejo último do guerreiro é sempre a paz, mas para o conseguir está disposto a enveredar pelo caminho da força se sentir que isso é necessário. Nesse caminho deve integrar as sete virtudes do Bushido: Rectidão, Coragem, Benevolência, Respeito, Honestidade, Honra e Lealdade.

Não quer isto dizer que não me questione.
Não quer isto dizer que não tenha dúvidas ou desconforto.
Mas é, ainda assim, um caminho que posso proclamar que escolhi e que confio que me levará à Luz.
Sei que sou imperfeita, como qualquer humano o é. Questiono a validade das minhas opções e por vezes desejo ter escolhido de forma diferente em determinada altura. Pode perfeitamente acontecer que este mesmo caminho seja o que me levará mais tempo a atingir a iluminação espiritual.

É exactamente por isto que tento reflectir sobre o que sou, o que faço e o exemplo que dou. Nas minhas conversas com as minhas irmãs de caminho, partilhei com elas o meu desconforto. É que, da forma que vivo presentemente, vejo (com o coração) que demorarei muito tempo a alcançar a Luz, porque me sinto insatisfeita. Há desejos no meu interior que tento adormecer, atenuar, amordaçar. Desejos que sei que, acordados e libertos, me fariam (mais) feliz. Mas o respeito e lealdade a que me tenho obrigado comandam-me que os domine.

O Budismo, fortemente contido nas palavras do pensador Osho, recomenda que nos libertemos do desejo. De todo o desejo, pois este causa sofrimento.

Lamento - e peço desde já desculpas a todos os que seguem os ensinamentos de Osho - mas não concordo. Não vejo qualquer mal no desejo de sermos melhores no que fazemos; no desejo de fazer mais pelos outros; no desejo de ir mais longe. Desde que tudo isto não surja por pura vaidade e ambição de vã glória, não vejo mal absolutamente nenhum em desejar Ser e Estar mais próximo do Universo.
É aqui que eu estaco - por causa da teimosa lealdade que considero minha. Ser leal, para mim, não é apenas não magoar; é apoiar quem detém a nossa lealdade, mesmo que isso nos custe. Dizem-me que devo ser leal, em primeiro lugar, a mim mesma, pois ao aproximar-me mais da Luz terei mais para partilhar. Mas há muitas alturas em que a lealdade para com outros tem precedência, sobrepõe-se à que devo ter ao meu Ser, obrigada pelo sentido do Maior Bem para o maior número.

Sei que com isso não estou a dar um mau exemplo: que por vezes devemos sacrificar o nosso desejo pessoal, por muito honorável que seja, no altar do Bem Maior, que o benefício da comunidade deverá sobrepor-se ao do indivíduo.
Mas se o fizer, não estarei ao mesmo tempo a demonstrar que se deve negar a lealdade para com nós próprios se isso for bom para os outros? Que devemos se necessário deixar tornar mortiça a nossa luz interior se isso proporcionar um maior bem para "os nossos"?

É este o meu desconforto, a minha dúvida, o meu tropeço no caminho para a Luz: onde focar a primazia da lealdade?
No Eu, permitindo ao Ser maximizar e utilizar todos os dons que lhe foram facultados para prosseguir no caminho Universal? Ou nos Outros, colocando esses mesmos dons (ainda que privados de possibilidade de evolução) ao serviço do Bem para o maior número?
A lealdade não pode permanecer dividida, sob pena de se quebrar a favor de um dos lados, seja ele qual for. Quando quebrar, o outro lado irá sentir a perda. E questionar.

Tal como eu agora me questiono, insegura - e adio a escolha.